Presidente do México e premiê do Canadá foram estratégicos para evitar guerra comercial que também não interessava aos EUA.
Donald Trump Reuters/Carlos Barria/File Photo O presidente Donald Trump se gabou e cantou vitória por ter falado duro com México e Canadá e, por assim dizer, obtido concessões de seus homólogos Claudia Sheinbaum e Justin Trudeau para evitar uma guerra comercial com os países vizinhos. Trump usou a chamada diplomacia da chantagem — a de impor tarifas de 25% que começariam a vigorar no primeiro minuto desta terça-feira, mas pausou as exigências por um mês depois que a presidente mexicana e o premiê canadense concordaram em pôr 10 mil agentes em suas fronteiras para combater o tráfico de drogas e a entrada de imigrantes ilegais. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp “O Canadá está se ajoelhando, assim como o México”, resumiu a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, à CNN. Não é bem assim.
As bolsas despencaram na segunda-feira, antevendo um forte indício dos custos que os EUA arcariam com uma guerra comercial indesejada: aumento da inflação para os americanos e prejuízos às cadeias de suprimentos. Tanto o México quanto o Canadá já vinham agindo para reforçar suas fronteiras e cederam pouco às taxas punitivas ameaçadas por Trump.
Para Sheinbaum e Trudeau, propor a pausa de um mês foi estratégica e menos dolorosa do que entrar em confronto com os EUA. Em 30 dias, este panorama deve registrar poucas mudanças.
Trump manterá a fama de durão diante de seus simpatizantes, e os vizinhos, tradicionais aliados dos EUA, terão aceitado retribuir com algum agrado a ele, para evitar o pior cenário. O presidente americano é afeito a intimidações e, em duas semanas, soube esticar a corda com seus parceiros, abusando da cartada tarifária para alcançar objetivos.
Ele se serviu da figura da fábula, nesta segunda-feira no Salão Oval, para atribuir aos EUA o papel da galinha dos ovos de ouro do mundo.
“Ninguém pode competir conosco.
As tarifas são muito poderosas e vão tornar nosso país muito rico.” Foi assim com a Colômbia, que aceitou receber os deportados dos EUA.
O Panamá concordou em não renovar o acordo com a China, conhecido como a nova rota da seda, para não perder a soberania do canal que liga o Atlântico ao Pacífico. A cruzada protecionista de Trump contra aliados têm riscos, entre eles o de minar a confiança desses países nos EUA diante dos sucessivos arroubos autoritários do presidente.
O clima político altamente polarizado no Canadá, por exemplo, cedeu lugar à união de todos contra o vizinho americano.
Trump se vangloria de ter feito mais em duas semanas do que seus antecessores Biden e Obama em 12 anos.
Mas viu a China reagir, com novas retaliações, assim que as tarifas de 10% dos EUA entraram em vigor: uma investigação antitruste sobre o Google e tarifas de 10% e 15% sobre petróleo bruto, carvão e gás liquefeito exportados pelos EUA. O jogo entre as duas maiores potências econômicas do mundo ainda rola como amistoso até uma conversa prevista entre Trump e Xi Jinping, para tentar um acordo e evitar um confronto comercial.
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