As forças de segurança do novo governo sírio foram acusadas por organizações de direitos humanos de assassinarem centenas de pessoas de minoria alauíta - à qual pertence o ex-ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro.
Reunião do Conselho de Segurança da ONU ANdrew Kelly/Reuters Os Estados Unidos e a Rússia pediram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, neste domingo (9), uma reunião a portas fechadas na segunda-feira (10) por causa da escalada da violência na Síria, disseram diplomatas neste domingo, segundo a agência Reuters.
De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que tem sede no Reino Unido e monitora a situação na Síria, foram mortos 745 civis, 125 membros das forças de segurança sírias e 148 combatentes leais ao ex-ditador Bashar al Assad entre sábado e domingo.
As autoridades sírias não informaram nenhum número oficial de mortos. A violência começou após o novo governo reprimir uma insurgência da minoria alauita, à qual pertence Assad, nas províncias de Latakia e Tartous. O líder do país, Ahmad al Sharaa, afirmou neste domingo que os responsáveis pelo "derramamento de sangue" serão responsabilizados e punidos.
Ele também anunciou a criação de uma "comissão independente" para investigar as violações contra civis. "Nós responsabilizaremos, com total determinação, qualquer um que esteja envolvido no derramamento de sangue de civis, que maltrate civis, que exceda a autoridade do estado ou explore o poder para ganho pessoal.
Ninguém estará acima da lei", afirmou Sharaa em um discurso transmitido em rede nacional. Sharaa, cujo movimento rebelde derrubou Assad em dezembro, acusou os seguidores do ex-ditador e potências estrangeiras, que ele não especificou, de fomentar a agitação no país. "Hoje, enquanto estamos neste momento crítico, nos encontramos diante de um novo perigo - tentativas de remanescentes do antigo regime e seus apoiadores estrangeiros de incitar novos conflitos e arrastar nosso país para uma guerra civil, com o objetivo de dividi-lo e destruir sua unidade e estabilidade", disse ele. Os alauítas negam a versão do governo, dizendo que têm sido alvo de perseguição dos sunitas radicais que tomaram o poder em dezembro passado e que são vistos por esses radicais como "hereges". Rami Abdulrahman, chefe do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, disse que os civis incluíam mulheres e crianças alauitas.
Ele afirmou que o número de mortos foi um dos mais altos desde um ataque com armas químicas pelas forças de Assad, em 2013, que matou cerca de 1.400 pessoas em um subúrbio de Damasco. A Federação de Alauítas na Europa, por sua vez, acusa o novo governo de promover uma "limpeza étnica sistemática". Condenação internacional O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, pediu às autoridades sírias que responsabilizem os "terroristas islâmicos radicais".
"Os Estados Unidos condenam os terroristas islâmicos radicais, incluindo jihadistas estrangeiros, que assassinaram pessoas no oeste da Síria nos últimos dias", disse o secretário, em um comunicado. No Reino Unido, o ministro das Relações Exteriores, David Lammy, também se manifestou e disse que os relatos de mortes generalizadas de civis nas regiões costeiras da Síria são “horríveis”, pedindo às autoridades de Damasco que garantam que todos os sírios sejam protegidos da violência. O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse que as mortes de civis "devem cessar imediatamente", enquanto a Alemanha pediu "veementemente a todas as partes que ponham fim à violência". Organizações humanitárias denunciam massacre de minoria religiosa na Síria Alauítas denunciam assassinatos Neste domingo, o Ministério do Interior anunciou o envio de "reforços adicionais" para "restaurar a calma" em Qadmus, um povoado na província de Tartus, onde o governo estaria buscando "os últimos homens leais ao antigo regime". A agência de notícias oficial da Síria, a Sana, relatou "confrontos violentos" em Taanita, um vilarejo nas montanhas da mesma província, onde "vários criminosos de guerra afiliados ao regime deposto e grupos de homens leais a Assad que os protegem" se refugiaram, segundo a agência.
Um comboio de 12 veículos militares entrou no vilarejo de Bisnada, na província de Latakia, onde as forças de segurança estão revistando casas, observou um fotógrafo da agência France Presse. "Mais de 50 pessoas, familiares e amigos foram assassinados", disse um habitante alauíta de Jablé, que não quis se identificar. As forças de segurança e milicianos aliados "recolheram os corpos com escavadoras e os enterraram em valas comuns, inclusive jogando corpos ao mar", acrescentou. O OSDH e vários ativistas publicaram vídeos que mostram dezenas de corpos e homens vestidos com uniformes militares disparando em três pessoas à queima-roupa.
A AFP não conseguiu verificar essas imagens de forma independente.
Em Damasco, as forças de segurança dispersaram um protesto contra os massacres, depois que contra-manifestantes invadiram a área gritando "Estado sunita!" e várias palavras de ordem contra a comunidade alauíta. LEIA MAIS: Violência na Síria e protestos: veja manifestações após mortes de centenas de civis Presidente da Síria diz que vai punir todos os envolvidos em 'banho de sangue' Centenas de mortos: entenda os ataques na Síria e quem são os alauítas