Durante o período pandêmico, cidades das regiões de Bauru, Itapetininga, Rio Preto e Sorocaba implementaram medidas não apenas na área da saúde, mas também na economia e educação.
Em uma série de reportagens, o g1 relembra os impactos da Covid-19.
Shopping adota drive-thru e libera carros nos corredores das lojas em Botucatu Guilherme Miletta/TV TEM Há cinco anos, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a Covid-19 como uma pandemia.
Até então, o termo era mais comum no meio científico e nos estudos históricos, sem fazer parte do vocabulário cotidiano da população.
Hoje, permanece presente na memória de todo mundo. 📲 Participe do canal do g1 Bauru e Marília no WhatsApp A marca de cinco anos pode parecer distante, mas os impactos desse período, que se estendeu até maio de 2023, ainda são sentidos na sociedade.
Medidas emergenciais foram adotadas para conter a disseminação da doença, quando os serviços de drive thru ganharam força, até com carros dentro de shopping, aulas remotas, música no portão das casas e até atendimento mais humanizado nos hospitais, com médico tocando e cantando a pacientes. Segundo dados atualizados até março de 2025, a Covid já infectou mais de 39 milhões de pessoas no Brasil e causou 715 mil mortes. Nas principais cidades do centro-oeste paulista, foram registrados mais de 144 mil casos e 3,7 mil mortes.
Em todo o estado de São Paulo, o total de infectados chegou a 6,9 milhões, com 184,4 mil óbitos.
O g1 relembra esse período marcante em uma série de reportagens sobre o reflexo da pandemia no interior de SP publicada a partir desta segunda-feira (10). Calçadão da Batista de Carvalho na área central de Bauru na época do uso obrigatório de máscaras TV TEM/ Reprodução/ Arquivo Apesar dos números expressivos, as restrições foram fundamentais para conter o avanço da Covid-19.
O lockdown e a quarentena forçaram o fechamento do comércio e manteve a população em casa, provocando reações emergenciais não apenas na saúde, mas também na economia e na educação. Saúde: a linha de frente do combate O governo de São Paulo definiu um plano de classificação em parceria com as Diretorias Regionais de Saúde (DRSs) para monitorar a situação da Covid-19 em diferentes regiões do estado.
No centro-oeste paulista, as cidades estavam distribuídas entre três DRSs principais: Bauru, Marília e, em menor número, Araraquara. Novo mapa atualizado com a situação das regiões do estado no Plano São Paulo de flexibilização da quarentena Divulgação/Governo de SP As regiões eram avaliadas a cada 14 dias para verificar se poderiam avançar para uma fase menos restritiva ou, em caso de piora, regredir em até sete dias – ou imediatamente, caso houvesse agravamento dos indicadores de saúde.
As fases eram: Fase 1 (vermelha): alerta máximo, funcionamento permitido apenas para serviços essenciais. Fase 2 (laranja): controle, com possibilidade de reabertura parcial e restrições. Fase 3 (amarela): ampliação da reabertura de setores. Fase 4 (verde): reabertura ampliada em relação à fase 3. Fase 5 (azul): "Normal controlado", com todos os setores em funcionamento, mas mantendo medidas de distanciamento e higiene. Plano do governo de São Paulo para flexibilização da quarentena no estado Governo de SP/Divulgação A descentralização das decisões abriu espaço para disputas entre prefeitos e o governo estadual.
Em Bauru, por exemplo, a Câmara Municipal tentou aprovar leis para flexibilizar as restrições, contrariando as diretrizes da DRS.
No entanto, o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu essas medidas. A principal referência para definir as fases do Plano SP era a taxa de ocupação de leitos de UTI.
Para ampliar a capacidade hospitalar, o governo implementou hospitais de campanha em várias regiões. Após impasse, estado anuncia abertura de 30 novos leitos para Covid no HC de Bauru Famesp/Divulgação No interior paulista, Bauru contou com um hospital de campanha montado em um prédio da Universidade de São Paulo (USP), planejado para abrigar o futuro Hospital das Clínicas da cidade.
A estrutura funcionou de 1º de julho a 31 de dezembro de 2020, em um prédio próximo à Avenida Nações Unidas, com 40 leitos de UTI para atender pacientes de 38 municípios da região. Testagem em massa para Covid-19 acontece no Recinto Mello Moraes em Bauru Prefeitura de Bauru/Divulgação Já em Botucatu, o hospital de campanha foi instalado no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) da cidade, que foi adaptado para receber 11 leitos de UTI e 16 de enfermaria.
A unidade atendeu casos graves encaminhados pela Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross). Na região de Sorocaba, a Arena Multiuso foi transformada em hospital de campanha com 81 leitos.
Já em Itapetininga, 20 leitos de UTI foram montados em uma área aberta na Rua Padre Albuquerque. Hospital de campanha foi montado na arena multiuso, próximo da Rodovia Raposo Tavares, em Sorocaba (SP) Divulgação/Prefeitura de Sorocaba Em Jaú, o Hospital Amaral Carvalho (HAC), referência nacional no tratamento oncológico, precisou expandir sua atuação para atender pacientes com Covid-19.
Uma antiga oficina de caminhões, localizada às margens da Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-225) e doada por uma paciente, foi adaptada para funcionar como hospital de campanha, oferecendo 29 leitos clínicos de UTI e 10 leitos semi-intensivos com suporte ventilatório. Hospital de campanha para Covid montado no HAC será desativado em Jaú HAC/Divulgação Danielle Urbanetto, gerente de crises do hospital, esteve à frente da implantação da unidade e destacou os desafios enfrentados. "Foi um trabalho intenso.
A unidade era uma oficina, então teve que ser totalmente transformada para garantir um ambiente hospitalar adequado.
Contratamos cerca de 150 funcionários, entre novos contratados e profissionais remanejados de outras áreas, incluindo enfermeiros, médicos, fisioterapeutas e nutricionistas", lembra Danielle. Assim como outros hospitais de campanha regulados pelo Cross, os pacientes já chegavam com a vaga confirmada para internação.
A unidade atendeu 40 municípios da região, seguindo um sistema de regulação que avaliava a compatibilidade dos casos com o perfil do hospital. Hospital de campanha em Jaú Rafael Ferraz / TV TEM Durante os seis meses de funcionamento, entre março e agosto de 2021, o hospital atendeu 268 pacientes: 224 receberam alta, 23 foram transferidos para outras unidades de terapia intensiva e 21 não resistiram. Além dos desafios médicos, o hospital também enfrentou a necessidade de oferecer suporte emocional aos pacientes e profissionais da linha de frente. "A instituição encaminhou psicólogos para apoiar a equipe, os pacientes e suas famílias.
Criamos o 'prontuário afetivo', que consistia em colocar informações e fotos dos pacientes na parede do quarto para humanizar o ambiente", explica Danielle. Médico toca músicas favoritas de pacientes internados com Covid em Jaú A iniciativa do prontuário afetivo foi destaque no g1 na época, especialmente pela atuação de um médico que também era músico e tocava para os pacientes internados. "Era uma placa com informações e fotos do paciente para humanizar o ambiente hospitalar e lembrar o paciente de suas memórias e desejos.
Isso ajudava tanto os pacientes quanto os profissionais a manterem uma conexão emocional durante o tratamento", completa. Hoje o prédio continua em pleno funcionamento, porém, apenas abrigando funções administrativas e de estoque do Hospital Amaral Carvalho. Médico toca músicas favoritas de pacientes internados com Covid em Jaú Hospital Amaral Carvalho/Divulgação Um olhar para a economia As medidas de quarentena levaram comércios a fecharem as portas e serviços considerados não essenciais deixaram de ser prestados.
Nesse contexto, surgiu o Auxílio Emergencial, a medida mais popular relacionada à economia tomada pelo Governo Federal durante o período pandêmico.
O Auxílio Emergencial foi um programa criado pelo governo brasileiro em 2020 para fornecer uma ajuda financeira temporária a cidadãos em situação de vulnerabilidade devido aos impactos econômicos da pandemia de Covid-19. No início do programa, em 2020, o valor do benefício foi de R$ 600 por mês e foi pago até dezembro daquele ano.
Em 2021, o valor foi reduzido para R$ 150 para indivíduos solteiros, R$ 250 para famílias e R$ 375 para mães solos.
Instituído pela Lei nº 13.982, para ter acesso ao benefício era necessário ter renda familiar mensal de até R$ 522,50 por pessoa ou uma renda familiar total de até R$ 3.513,50. Esse era o caso de Maria Amâncio de Oliveira, de 48 anos.
Na época com cinco filhos, a faxineira se viu desempregada com a paralisação dos serviços. "Eu perdi todos os trabalhos.
Parou tudo.
Foi a primeira coisa que tirou, né? Tava muito difícil.
E eu com as crianças todas adolescentes e uns pequenos e meus netos em casa, aí pra mim pesou bastante na época", lembra. Marisa foi beneficiária do Auxílio Emergencial em Bauru Arquivo pessoal Como a moradora de Bauru (SP) era beneficiária do Bolsa Família, o valor veio automaticamente para ela e ajudou principalmente nas compras de supermercado. "Eu tava passando necessidade mesmo.
Tava, tipo, comendo arroz, arroz branco com as crianças.
Então foi difícil, muito difícil.
E a gente não sabia de onde tirar, né? Porque tava pandemia no auge, o medo", conta em entrevista ao g1. Além disso, a família recebeu cestas básicas de Organizações Não Governamentais (ONGs) da cidade.
"Com o auxílio eu comprei fruta pros meus netos, pros meus filhos.
Eu comprei leite, eu comprei fralda.
Pagava conta de água, de luz, e ainda sobrava um dinheirinho no bolso", lembra. Por outro lado, muitos empresários e trabalhadores precisaram se reinventar durante a pandemia.
O músico Paulo Maia, também de Bauru, que trabalhava principalmente com musicais para casamentos, foi diretamente afetado pela paralisação. Ele aderiu às lives, transmissões ao vivo que muitos músicos fizeram na época.
O pianista se juntou a uma amiga cantora e todo domingo fazia transmissões tocando músicas pelas redes sociais.
O sucesso foi grande, inclusive com doações para a dupla.
No entanto, um projeto com essa mesma colega foi o que sustentou o artista financeiramente. Em veículos separados e com todas as medidas de segurança e higiene, eles resgataram uma tradição antiga: fazer serenatas. Grupo de Bauru realizava serenatas durante a pandemia Arquivo pessoal Pessoas contratavam os serviços dos artistas e presenteavam parentes ou amigos.
Segundo Paulo, foram mais de 200 apresentações durante o período de isolamento social. "Esse projeto da serenata foi fundamental porque era o jeito de eu conseguir levantar um dinheiro e também levar um afago para as pessoas.
Nós chegávamos na casa das pessoas, lá na rua mesmo, elas abriam o portão, ou quem morava em apartamento abria a janela, e nós tocávamos de três a quatro músicas", lembra. Além do retorno financeiro, o projeto também trouxe um impacto emocional para as pessoas, que se viam carentes de arte. "A receptividade das pessoas naquele momento tão tenso era enorme.
Sempre foi muito emocionante fazer serenata.
A gente levava a can...